Brasil lidera ranking de gasto com a conta de luz
Aumento da fatia dedicada a subsídios e tributos deixam energia elétrica nacional mais cara.Em média, o brasileiro compromete 4,54% de seu dinheiro com luz. Na Espanha, a taxa é de 2,85%, por exemplo. Na média, o brasileiro compromete 4,54% da sua geração de riqueza anual com o pagamento da tarifa residencial. É o maior valor, bem acima do de nações europeias, como Espanha (2,85%), Alemanha (1,72%) e Luxemburgo (0,35%) —onde a energia tem o menor peso sobre renda no grupo analisado. O resultado brasileiro também fica distante do identificado em economias emergentes, como Chile (2,65%) e Costa Rica (2,76%). (Folha)

Brasil deve fechar o ano com superávit comercial recorde
O resultado se deve à combinação de aumento do volume exportado com a alta dos preços das commodities em que o Brasil se torna grande exportador, como produtos agrícolas, minérios de ferro e petróleo. (Estado)

Uma defesa das privatizações
Há vantagens para a sociedade ao aderir ao modelo de serviços privados. No Brasil e no mundo, há serviços de boa e má qualidade sendo prestados por empresas estatais e privadas. Ou seja, no debate sobre prestação de serviços públicos cada pessoa vai se lembrar de algum caso específico que corrobora seu ponto de vista pró ou contra privatização. Muitas estatais estão sujeitas ao controle político, que muitas vezes interfere em suas decisões estratégicas e operacionais. Esses fatores reduzem os incentivos e as oportunidades para que consigam investir em pesquisa e inovação tecnológica, que são atividades de alto risco, alto custo e longo prazo. Por outro lado, as empresas privadas podem aproveitar as vantagens competitivas das novas tecnologias, que permitem oferecer serviços mais eficientes e modernos, dado que os marcos regulatórios garantam o espaço jurídico para tal. Além disso, as privatizações têm o potencial de estimular a concorrência e melhorar a qualidade dos serviços públicos. A possibilidade de prestação privada aumenta a probabilidade de competição, beneficiando o Estado e a sociedade com mais opções e melhores condições de serviço. A redução na quantidade de empresas públicas pode permitir que os governos concentrem seus recursos e esforços em áreas essenciais e que têm deixado a desejar: como a qualidade da educação e eficácia da segurança pública, para citar dois exemplos. O sucesso dessas iniciativas depende da qualidade da regulamentação, dos contratos e do desempenho das agências reguladoras para garantir responsabilidade das empresas e direitos dos usuários. A regulação precisa ser técnica, independente e transparente, reduzindo interferências políticas e corrupção. O que, por sua vez, contribuirá para serviços públicos de maior qualidade, permitindo que a política se concentre no que realmente importa para o bem-estar da sociedade. (Folha)

O ESTADO DE S.PAULO

  • Netanyahu promete aniquilar Hamas, que fez 130 reféns
  • Brasil enviará 6 aviões para resgatar brasileiros presos no fogo cruzado
  • Caixa libera R$ 14 bi em créditos para infraestrutura
  • Retomada no pós-pandemia tem favorecido a balança do País
  • Novo recorde no superávit comercial
  • Após a covid, o mundo se prepara para a ‘Doença X’
  • Chuvas causam 2ª morte; coletora de esgoto 3 indígenas são baleados em conflito com PM
  • Exército quer zoneamento próprio perto do Ibirapuera

FOLHA DE S.PAULO

  • Guerra escala em Israel; mortos em festa são 260
  • Contra alagamentos, SC fecha a maior barragem do estado
  • Camila Lisboa: Razões humanas e trabalhistas da greve
  • Brasil tem a conta de luz que mais pesa no bolso entre 34 países
  • Mundo não pode desligar tão cedo o atual sistema energético, diz presidente da COP28
  • Uberização no trabalho afeta motor de siglas e desafia esquerda
  • Deborah Bizarria: Uma defesa das privatizações
  • Marcos de Vasconcellos: Legislativo aperta o cerco contra pirâmides e ‘alienígenas’
  • Ana Cristina Rosa: Descontrole do Estado
  • Antecipação da crise que virá: Corrida ao dólar

O GLOBO

  • Carências de infraestrutura dificultam o aprendizado no ensino público
  • Ataque terrorista afasta ainda mais chance de paz
  • Israel encontra 260 corpos em local de rave
  • Mortos em Israel passam de 700, e Gaza sofre 800 bombardeios
  • Bola dividida: Aumenta pressão para Lula não vetar marco temporal, e tema abre divergência no governo

VALOR ECONÔMICO

Mercado prevê dólar a R$ 5 no fim do ano, mas revê apostas para a taxa de juro
Investidor mantém no radar política monetária dos EUA e incertezas sobre a solidez fiscal do Brasil em 2024

Fazenda planeja vender créditos tributários
Medida poderá gerar arrecadação entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões em 2024, ano em que o governo estabeleceu como meta zerar o déficit primário, diz secretário do Tesouro, Rogério Ceron.Operação para antecipar receita faz parte da estratégia de déficit zero em 2024

Após ataque do Hamas a Israel, guerra tem mais de mil mortos
Conflito ocorre num momento em que Israel e Arábia Saudita ensaiavam aproximação, também coloca em foco a atuação do Brasil na presidência temporária do Conselho de Segurança da ONU

Eletrificação vai avançar antes nos ônibus, diz Daimler
São Paulo já começa a eletrificar sua frota de ônibus e a Mercedes-Benz do Brasil, uma das fornecedoras dos modelos elétricos para o município, quer exportar o ônibus elétrico que produz em SBC

BC evita dar sinais sobre o juro em meio a incertezas
Única indicação mais firme é que os juros seguirão caindo num ritmo de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões.

Série de desastres naturais exige repensar Defesa Civil
Demanda deve crescer no país e estrutura nos municípios é carente, com equipes pequenas e em que falta até telefone fixo

Os trens da alegria de Randolfe e de Pacheco
Projetos pessoais de políticos criam benesses e armam pauta-bomba para o país

Cresce ofensiva para garantir avanço da reforma tributária
Bernard Appy está negociando com senadores; Fernando Haddad deve retomar articulações assim que voltar de reunião do FMI

Problema de US$ 43 bi do FMI com a Argentina continuará a piorar
Guerra fria EUA-China ajuda a explicar porque o Fundo continua a financiar o país apesar dos resultados lamentáveis, que poderá se perpetuar a crise e ainda mais piorar o quadro, se Massa ganhar as eleições

Conflito Israel-Palestina adiciona novos riscos à economia global
Impacto vai depender da duração do conflito, da sua intensidade e da sua propagação a outras partes do Oriente Médio

Maior risco ao mercado de petróleo seria envolvimento do Irã
Analistas e traders não veem uma ameaça imediata ao fornecimento, mas todas as atenções estão voltadas para o Irã, um dos maiores produtores mundiais de petróleo e apoiador chave do grupo extremista Hamas

Violência continua pelo 2º dia em Israel, com mais de 1,1 mil mortos
Invasão por terra e ar por parte dos militantes do Hamas surpreendeu a inteligência de Israel

Planos de segurança precisam sair do papel e ter continuidade
Tráfico e milícias são um risco sério não só para a segurança, mas também para o ‘República democrática’, cujo o poder é centrado num grupo de minoria e o povo da nação é refém as suas ordens, daí que entendemos que a proteção esta voltada para o umbigo deste poder e não para a população, e também o aumento do crime em todos os estados, em que estes governos locais, estão dentro deste ‘umbigo’

Brasil se perpetua na era colonial da oligarquia dominante do mercado interno
Sem importação não tem reindustrialização. Brasil tem feito a opção de proteger os produtores de aço em detrimento da competitividade da gigante cadeia que o consome

Simples assim: Dolarização na AL não elimina os desequilíbrios macroeconômicos
Experiências no Panamá, El Salvador e Equador mostram que troca da moeda não é uma solução mágica e que desafio na Argentina será ainda maior

Após período de baixa, arroba do boi sobe quase 20% em menos de um mês
Aquecimento no consumo interno e recuperação no volume de exportação da carne ajudaram a deixar para trás cenário de fortes baixas nos preços do gado

Receita com frango recua 13,3%
Em setembro, volumes embarcados somaram 397,1 mil toneladas, 0,7% de baixa em relação ao mesmo mês de 2022

‘Regimes de chuva em áreas de grãos já sofrem os impactos do desmatamento’
Biólogo Philip Fearnside, estudioso da Amazônia, diz que “a janela está se fechando” e é preciso reduzir as emissões e parar a destruição da floresta agora

Área da agropecuária cresceu 50% desde 1985
Em quase quatro décadas, a área saltou para 282,5 milhões de hectares, ou um terço do território nacional, segundo o MapBiomas

Mercado vê dólar de volta aos R$ 5 no fim do ano
Mediana de 42 casas mostra recuperação, mas amplitude de projeções, que vão de R$ 4,80 a R$ 5,30, sinaliza ambiente de muita incerteza quanto o aumento dos gastos do governo mês a mês, conflitos externos e agora agravado pela guerra. O cálculo é modesto entre um valor a outro do dólar, cuja as projeções e intenções do governo e a sua economia interna, pelas projeções do seus gastos futuros e o mercado em muitas áreas fechando suas portas, caindo a sua receita fiscal.

Estresse em juros dos EUA faz mercado rever apostas para Selic. Nada a esperar
Precificação da taxa ao fim do ciclo saltou de 8,75% para 10,75% em dois meses, e cenário limita posições construtivas em Brasil

Conflito entre Israel e Hamas pode pressionar preços do petróleo
Aumento acentuado não é consenso entre gestores e economistas, mas sentimento em relação às ações pode ser afetado

Como bancos, maquininhas e bandeiras faturam com cartões
No Brasil, instrumento é menos usado como produto de crédito e tem ‘jabuticabas’, como o parcelado sem juros

Quando e como buscar a aposentadoria pelo INSS?
Alguns pontos são importantes para garantir consistência das informações, como comparar Extrato Previdenciário (CNIS) com Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS)

Reforma impacta operações de fusão e aquisição
Empresas já analisam qual será seu valor de mercado após as mudanças em debate

GAZETA DO POVO

  • Tudo sobre a guerra em Israel: as raízes do grupo terrorista Hamas, o drama de reféns, a posição do Brasil e os próximos passos.
  • No Hamas brasileiro: Rio de Janeiro tem mega operação para prender chefes do Comando Vermelho
  • Em terceiro dia de ataques, Israel anuncia “cerco total” na Faixa de Gaza
  • Segurança pública não é assunto para amadores como Dino
  • Brasil lidera ranking de peso da conta de luz no orçamento dos consumidores
  • Reféns escalam drama de Israel a nível inédito; o que esperar dos próximos passos da guerra
  • O que a faixa de Gaza e a situação no Brasil têm em comum?
  • Irã teria ajudado ataque contra Israel; Gaza em suspense e medo pelo que há de vir
  • Do tempo de mandato à derrubada de decisões: Congresso tem 4 propostas para fera STF
  • China, Cuba, Rússia, Venezuela: PT adere ao lobby de autocracia
  • Pior que o Vietnã: crise dos pioides mata quase 80 mil americanos por ano
  • Em meio a chuvas intensas, indígenas tentam impedir fechamento de barragem em SC
  • TSE (da esquerda) julga ações de investigação eleitoral contra Bolsonaro e a evidência do que todos já sabem sobre o Lula – É chover no molhado
  • Manifestantes pró-palestina ‘a esquerda’, se reúnem em NY com apoio de democratas socialistas
  • Reunião do Conselho de Segurança da ONU (presidida pelo PT) sobre a guerra em Israel termina sem entendimento, o que já era esperado
  • Irã teria ajudado o Hamas a planejar ataque surpresa contra Israel, diz jornal
  • Na ONU, Palestina insta Israel a parar violência abordar “raízes” do conflito
  • Mais de 260 corpos encontrados no festival de música atacado pelo Hamas – Não se faz festa de orgias como feitas no Brasil, em terra santa.
  • Boulos perde, além de eleitores, mas também o coordenador de pré-campanha por não repudiar os ataques do Hamas

MATÉRIA EM FOCO

Uberização da economia desafia esquerda no Brasil

A realidade do trabalho em torno de formas de plataformas virtuais, a uberização, em referência ao aplicativo de transporte, desafia o PT e outras siglas de esquerda, acostumadas com um mundo regido pela dinâmica entre sindicatos, governos e trabalhadores.

Características como gamificação dos apps e dispersão dos trabalhadores favorecem mobilização individual

A disrupção no mundo do trabalho causada pela chamada uberização da economia aumenta o desafio da esquerda de ganhar adeptos e barrar o avanço da direita.

Tradicionalmente motor de partidos como o PT, a mobilização coletiva de trabalhadores esbarra nas características inerentes ao trabalho por plataformas —disperso, mediado por algoritmos e conjugado às redes sociais, terreno em que a direita leva vantagem.

A mudança também enfraquece ainda mais os sindicatos, base de legendas de esquerda tradicionais, e coloca em xeque, para parte dos trabalhadores, o apoio à distribuição de benefícios sociais.

O fenômeno tem sido alvo de pesquisas acadêmicas recentes que mapeiam as implicações políticas do tema.

Uma delas é coordenada pela antropóloga brasileira Rosana Pinheiro-Machado, diretora do laboratório de economia digital e extremismo político da University College Dublin, na Irlanda.

Ela teve no ano passado financiamento aprovado pelo Conselho Europeu de Pesquisa para analisar a ligação entre autoritarismo na política e precariedade no trabalho no Brasil, Índia e Filipinas.

A hipótese é que, nesses países, características inerentes às plataformas, como o isolamento e a competição, favoreçam o individualismo e a identificação com a direita.

A fase piloto da pesquisa já aponta nessa direção, diz a professora. Seu grupo analisa o perfil de pessoas que começaram a empreender online no Brasil. Segundo ela, a tendência é que, à medida que passam a seguir influenciadores, essas pessoas acabam por cair em redes bolsonaristas.

Outros trabalhos já demonstraram que os algoritmos das redes sociais, onde esses empreendedores passam horas do dia, impulsionam publicações de extrema direita.

As implicações políticas da chamada uberização da economia são tema de pesquisa em outros países também.

Dois fatores que dificultam a identificação como classe para a mobilização coletiva de trabalhadores de aplicativos são elencados pelos pesquisadores Giedo Jansen, da Universidade de Amsterdam, na Holanda, e Paul Jonker-Hoffrén, da Universidade de Tampere, na Finlândia, no livro “Platform Economy Puzzles” (quebra-cabeças da economia de plataforma, em português), de 2021.

O primeiro é a competição induzida pela lógica de jogo, ou gamificação, de parte das plataformas. Seria a disputa pelas estrelinhas dadas pelos passageiros ou o privilégio a quem aceita mais corridas, por exemplo.

O segundo seria a dispersão espacial dos trabalhadores, o que dificultaria um laço de solidariedade e o apoio a políticas coletivistas de esquerda.

Eles apontam ainda a dificuldade de partidos social-democratas, identificados com a esquerda em boa parte da Europa, para lidarem com esses trabalhadores precarizados sem abandonarem sua base de trabalhadores formais que almejam a proteção do emprego e dos direitos trabalhistas já existentes.

A questão está posta no Brasil, onde o registro formal não é uma demanda consensual entre os trabalhadores dos aplicativos.

“Não é que eles não querem a CLT, eles não querem empregos ruins”, diz a antropóloga.

Integrante do movimento Entregadores Unidos pela Base, Renato Assad, 31, vai na mesma linha. Os entregadores que defendem autonomia, diz, não querem é ganhar um salário mínimo baixo para ficar oito horas à disposição do patrão.

Se o mínimo fosse mais alto, não haveria esse dilema, diz. Sem isso, “o trabalhador prefere se autoexplorar para ganhar mais”.

Formado pela USP em geografia, ele alterna as entregas em motocicleta com aulas na rede particular. Há quatro anos rodando pela cidade, ele afirma que o único político que já se aproximou da categoria foi Guilherme Boulos (PSOL), durante a campanha à prefeitura em 2020.

Mas se diz decepcionado com a decisão do psolista de contratar como marqueteiro o publicitário de agência que trabalhou para desmobilizar paralisação dos trabalhadores de aplicativos durante a pandemia da Covid-19, segundo reportagem da Agência Pública.

A plataformização do trabalho também é foco do PT

A Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido, conduz pesquisa quantitativa e qualitativa sobre o trabalho em aplicativos e o impacto na cultura política.

Compromisso de campanha do presidente Lula (PT), a regulamentação do segmento é objeto de um grupo no Ministério do Trabalho e Emprego.

Uma alternativa à regulamentação é um acordo entre empresas e a categoria, mediado pela pasta, em torno de pontos como remuneração mínima, jornada de trabalho e proteção em caso de doença.

É muito menos do que seria necessário, diz Nicolas Souza Santos, 35, integrante da Aliança Nacional dos Entregadores por Aplicativo, que reúne entidades representativas da categoria pelo país.

Ele defende a inclusão de outros pontos na regulação, como a transparência dos algoritmos e carga horária.

Filiado ao PDT, ele diz lamentar que seu partido tenha abandonado a discussão sobre o vínculo trabalhista da categoria. “A gente não é contra os autônomos, mas as plataformas são. Elas cronometram o tempo que a gente tem para chegar, dizem quem é o cliente e qual é o preço que podemos cobrar.”

Ele reconhece, porém, que a demanda por vínculo causa divisões na categoria, o que atribui à desinformação —já que seria possível, por exemplo, uma vinculação como horistas.

Mobilizar os colegas, aliás, é um desafio diário, segundo Nicolas. Dispersos pelas cidades, eles se comunicam muitas vezes por grupos de WhatsApp e Telegram, nos quais a regra número 1 é não falar de política para não gerar controvérsia.

Sob sua perspectiva, fazer parte dessa chamada nova economia não é uma vantagem para quem precisa da mobilização coletiva. “Não somos os metalúrgicos”, diz. “Nascemos praticamente anteontem.”

Folha de S.Paulo9 Outubro de 2023
Por: Angela Pinho

Antes que a tempestade chegue

Ao afastar o nariz da enxurrada de notícias diárias do mercado financeiro é possível perceber que algo muito importante está acontecendo. No rastro da pandemia, a inflação mundial explodiu. Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor bateu 9,1% em junho do ano passado, o registro mais alto desde novembro de 1981. A inflação no Reino Unido chegou a 9,6% em outubro de 2022, recorde de mais de 40 anos. Ainda que sem o nosso furor, lá como cá os juros sobem para combater a carestia. A taxa dos Fed funds (a Selic deles) subiu mais de cinco pontos porcentuais desde o começo do ano passado e é a mais alta desde o começo de 2007. Em recente entrevista, Jamie Dimon, presidente do JPMorgan que ficou famoso por não rasgar dinheiro, alertou para que todos estejamos preparados para conviver com taxas de Fed funds na casa dos 7%, talvez 8%. São números extraordinários, considerando que entre 2010 e 2020 a taxa média foi de míseros 0,6% ao ano.

O impacto mais devastador de juros internacionais muito altos se dará sobre os países com elevada dívida externa líquida, como é o caso crítico de muitos países da África ou da Argentina. Para quem pensa que somos cronicamente inviáveis, aqui estamos bem. Pelo 15.º ano consecutivo, o Brasil fechou 2022 com reservas internacionais que superam a dívida externa. Estima-se um superávit comercial na casa dos US$ 93 bilhões em 2023, o maior da história. Não vai ser por aí. Mas juros maiores podem pressionar o dólar e, indiretamente, a inflação. Inflação mais alta pode refrear o ritmo de queda da Selic, criando mais obstáculos para o crescimento do PIB, lembrando que o mercado já prevê que a expansão econômica em 2024 será algo como a metade do crescimento deste ano. Exceto os rentistas, ninguém tira proveito dos juros altos nos mercados internacionais.

Se o horizonte prenuncia uma tempestade, é bom o Brasil correr para tirar a roupa do varal. Cabe acelerar a pauta de reformas, encontrar uma forma de controlar gastos públicos e, antes de mais nada, concluir esta fase da reforma tributária. O texto aprovado na Câmara, que já mutilou a boa proposta original, dormita no Senado exposto à sanha dos vorazes interesses corporativos. Todos os setores se julgam merecedores de alíquotas favorecidas. Isso empurra para os outros uma conta que talvez não possa ser paga, podendo inviabilizar todo o esforço que já foi feito até agora. É melhor correr e fechar o que temos o quanto antes. O próximo ano pode ser de mais turbulência e isso não ajuda em nada.

Cabe acelerar a pauta de reformas, encontrar uma forma de controlar gastos e concluir esta fase da tributária.

O Estado de S. Paulo. 09 outubro de 2023
Por: Luís Eduardo Assis Economista, autor de ‘O Poder das Ideias Erradas’ (Ed. Almedina), foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP. E-mail: luiseduardoassis@gmail.com

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