O fantasma não sai de cena
A má gestão da política pública resulta em muitas vítimas. Nas últimas semanas, o tema do equilíbrio fiscal voltou à cena, motivado por duas ações da equipe econômica. A primeira foi piorar a meta de déficit primário para 2025. A segunda foi admoestar o Congresso, que aprova despesas sem discriminar a fonte de receita que irá financiá-las.
De fato, o Congresso tem contribuído para agravar o desequilíbrio fiscal, seja pela multiplicação das emendas parlamentares, seja pela distribuição de benefícios tributários e favores a grupos de interesse. Mas o Executivo também tem feito o mesmo.
A PEC da Transição, com seus R$ 145 bilhões de novos gastos, e diversas medidas posteriores foram iniciativas do Executivo que também não tinham previsão de receita que as financiassem.
Os gastos públicos viabilizam políticas essenciais em saúde, educação e programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. Eles também financiam diversos grupos de interesse que se aproveitam da agenda social para extrair recursos do Estado em favor do seu benefício privado, por meio de subsídios e isenções tributárias.
Essa é parte relevante do nosso problema…(Estado)

Foco em reduzir perdas e cidade plana explicam Maringá (PR) no topo da lista
Terceira maior cidade do Paraná, Maringá, no noroeste do estado, tem o melhor sistema de saneamento básico do país. (Folha)

Chuva no RS causa retirada recorde de moradores no Brasil
No estado, 618 mil estão fora de casa, entre desalojados e desabrigados, o maior número no país em três décadas. O Rio Grande do Sul não conhecia uma cheia tão forte desde 1941. Desde então, a população cresceu muito e ocupou áreas de risco e mais propensas a inundações. Os investimentos em contenção não acompanharam esses movimentos. Além disso, a geografia do estado ajuda a propiciar cheias intensas em áreas planas e serranas, com solo de baixa capacidade de armazenamento. “Nossa grande referência é a cheia de 1941, que levou 32 dias para descer abaixo da cota de inundação do Guaíba, que é de 3 metros. Isso significa que não podemos esperar baixar o rio para ré estabelecer coisas básicas à população, tem que ser antes”, diz Rodrigo Paiva, do Instituto de Pesquisa Hidráulicas da UFRGS (Folha)

O ESTADO DE S.PAULO

  • Manchete: No embate com Trump, eleitor negro indeciso é desafio a Biden
  • Sem reduzir conta de luz, acordo de Itaipu financia obras até em MS
  • Mercado vê alta de arrecadação em abril
  • ‘Queremos progresso fiscal para aumentar nota do País’
  • Empresários e especialistas cobram crédito e definição de marco legal
  • País vê fuga de projetos para o exterior
  • J. R. Guzzo: É proibido argumentar
  • Celso Ming: O bicho-papão da Previdência

FOLHA DE S.PAULO

  • Manchete: Chuva no RS causa retirada recorde de moradores no Brasil
  • ‘Plantação virou em nada’, conta agricultor
  • ‘Evito pensar no amanhã’, afirma produtora
  • ‘Tenho medo de fazer a conta’, diz produtor de Bento Gonçalves
  • Agricultores do RS listam perdas e lembram epopeia com gerador
  • ‘Não devemos polarizar catástrofe do RS’, diz Hang
  • Divisão no BC ameaça transição suave e consolida o favoritismo de Galípolo
  • Foco em reduzir perdas e cidade plana explicam Maringá (PR) no topo da lista
  • Moradores de Ananindeua (PA) apelam a lata d’água na cabeça
  • Número de afetados ultrapassa marca de 2 milhões
  • Risco de tragédia em Porto Alegre foi detectado em 2023
  • Com aeroporto de Porto Alegre inundado, empresas aéreas criam novos voos para o sul
  • Divisão no BC ameaça transição suave e consolida o favoritismo de Galípolo
  • Moradores de Ananindeua (PA) apelam a lata d’água na cabeça
  • Cuidados com a Fapesp

O GLOBO

  • Manchete: Renascer inédito: RS passará pela maior ação de reconstrução da história do país
  • CPF de Haddad é cadastrado ilegalmente em site de aposta
  • Queda nos casos de dengue não é motivo para relaxamento na prevenção
  • Corrente de solidariedade orgulha o Brasil
  • “No ocidente, Europa e EUA não representam a mesma coisa”
  • O problema é como se organizam as ações de prevenção
  • Um novo traçado após três enchentes: Um terço de Muçum terá de ir para outro lugar
  • Polícia acha depósito com artigos furtados

GAZETA DO POVO

  • Cemaden alerta para risco “muito alto” de inundações no RS neste domingo
  • Jurisprudência contra campanha antecipada foi endurecida para Bolsonaro, mas não deve afetar Lula, ‘que tomou o poder’
  • Para 47% dos brasileiros, ‘cientes’, Lula faz ingerência política nas atividades da Petrobras
  • Número de desabrigados dispara no RS e afetados por chuvas passam de 2 milhões
  • Lewandowski determina ampliação na segurança de abrigos e aeroporto de Porto Alegre
  • Paranoia ae objetivos políticos: a eterna ofensiva anticorrupção de Xi Jinping
  • São Paulo terá usina que transforma água do mar em potável, ‘tecnologia israelense’
  • Governo não precisa esperar água baixar para socorrer o RS, diz Rogério Marinho
  • De Neymar a dona Ieda: conheça histórias de heróis sem farda em meio à tragédia no RS
  • Governo tenta convencer Força Aérea de Portugal a trazer 200 toneladas de doações para o Brasil
  • Rodovias do RS podem voltar a ser bloqueadas por chuvas deste final de semana
  • Governo diz que apenas 69 cidades do RS pediram recursos emergenciais
  • A Lei das Estatais está valendo – menos para Lula
  • Tebet prepara pacote de corte de gastos e diz que ele depende de “decisão política”
  • O outro Brasil – Supera estereótipo de “terceiro mundo” para virar mercado líder da New Holland
  • Coreia do Norte diz que implantou novos sistemas múltiplos de lança-foguetes
  • O dinheiro é o produto mais “social” de todos
  • Emendas parlamentares liberadas ao RS já somam R$ 619 milhões para auxílio emergencial
  • Eleições de outubro são passo importante para direita voltar a governar o país, diz Bolsonaro
  • Operação militar leva 427 toneladas de doações e navio de guerra chega ao RS
  • Alexandre de Moraes reconhece direito, mas nega prisão especial a acusado por morte de Marielle
  • O voto é obrigatório para todos no Brasil? Saiba com que idade não precisa comparecer ás urnas
  • 76% dos brasileiros são contrários à PEC do Quinquênio, revela pesquisa

MATÉRIA EM FOCO

O fantasma não sai de cena

A má gestão da política pública resulta em muitas vítimas.
Nas últimas semanas, o tema do equilíbrio fiscal voltou à cena, motivado por duas ações da equipe econômica. A primeira foi piorar a meta de déficit primário para 2025. A segunda foi admoestar o Congresso, que aprova despesas sem discriminar a fonte de receita que irá financiá-las.

De fato, o Congresso tem contribuído para agravar o desequilíbrio fiscal, seja pela multiplicação das emendas parlamentares, seja pela distribuição de benefícios tributários e favores a grupos de interesse. Mas o Executivo também tem feito o mesmo.

A PEC da Transição, com seus R$ 145 bilhões de novos gastos, e diversas medidas posteriores foram iniciativas do Executivo que também não tinham previsão de receita que as financiassem.

Os gastos públicos viabilizam políticas essenciais em saúde, educação e programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. Eles também financiam diversos grupos de interesse que se aproveitam da agenda social para extrair recursos do Estado em favor do seu benefício privado, por meio de subsídios e isenções tributárias.

Essa é parte relevante do nosso problema. Invariavelmente, o patrimonialismo pega carona nas políticas públicas, fragilizando a capacidade do Estado de cuidar dos mais vulneráveis ou garantir a infraestrutura do país.

A curto prazo, o impulso fiscal estimula a economia, mas o resultado pode ser o aumento da inflação, que é um mecanismo socialmente custoso, por reduzir a renda das famílias.

A longo prazo, gera insegurança sobre quais serão as consequências desse processo de aumento da dívida pública/ PIB, que não pode continuar indefinidamente: teremos mais tributos, mais inflação, ou algum calote explícito ou disfarçado das obrigações do governo, como ocorreu com a PEC dos Precatórios?

O resultado da política fiscal expansionista depende das circunstâncias. E as circunstâncias no Brasil são peculiares.

Comecemos por um fato. Ajuste fiscal no Brasil não pode estar baseado em redução significativa do gasto público. Nosso aparato legal não o permite.

O gasto público está concentrado em pagamento de salários, aposentadorias, transferências para estados e municípios e diversas outras despesas que, por força da lei, não podem ser reduzidas. Muitas não podem ser alteradas nem por emendas à Constituição.

Ajuste fiscal relevante no Brasil significa reduzir o crescimento do gasto público. O teto de gastos estabeleceu que a despesa total do governo federal não poderia crescer mais do que a inflação. Aumentar a despesa real em um programa significava ter que reduzir em outro.

O arcabouço fiscal relaxou parcialmente o princípio: o gasto pode crescer acima da inflação, mas desde que menos do que a receita, e limitado a um máximo de 2,5% ao ano.

Só que a medida do arcabouço também restabeleceu a indexação de gastos públicos com saúde e educação. Outras despesas também passaram a crescer acima da inflação, como os benefícios da Previdência indexados ao salário mínimo.

O conjunto das regras aprovadas resultou em uma inconsistência. Equilibrar as contas públicas requer aumentos significativos da receita, dada a rigidez da imensa maioria dos gastos. Mas, quanto maior o crescimento da receita, maior tem que ser o crescimento de diversas despesas.

O total dos gastos, contudo, só pode aumentar até 2,5% acima da inflação. Logo, quanto mais aumentar a receita, e, portanto, as muitas despesas a ela indexadas, mais as demais têm de ser comprimidas, o que é inviável a partir de determinado ponto. O arcabouço revelou-se uma armadilha.

As regras criadas pelo governo resultaram em um dilema: o governo tem que revogar a indexação dos gastos com saúde e educação à receita, além dos reajustes reais do salário mínimo, ou desconfigurar, severamente, o arcabouço fiscal.

Não há aumento de receita que resolva a encrenca.

Como fica a garantia de que o governo irá estabilizar a trajetória da dívida/pib? A dúvida parece já estar contribuindo para o aumento da volatilidade de preços importantes da economia, como as taxas de juros de mercado e a taxa de câmbio, prejudicando o investimento e o crescimento sustentável.

Os gastos públicos aumentaram cerca de R$ 320 bilhões em 2023 (perto de R$ 250 bilhões, descontando a correção dos precatórios), quase tudo em decorrência de medidas propostas pelo Executivo.

Segundo a IFI (instituição Fiscal Independente), o déficit primário estrutural em 2023 ficou em 1,6% do PIB. Trata-se da maior expansão fiscal desde 1997.

Estabilizar a dívida/PIB requer um superávit primário de cerca de 1,5% do PIB. Isso significa uma variação do resultado primário próxima de R$ 300 bilhões.

Para ter noção do ajuste necessário, o governo federal arrecadou, em 2023, pouco mais de R$ 450 bilhões das empresas, por meio do Imposto de Renda e da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido). Como a conta adicional será paga?

A equipe econômica critica o Legislativo por seguir a mesma cartilha do Executivo? Um pode gastar mais sem previsão de receita, mas o outro não?

Em meio ao debate sobre a quem cabem os problemas fiscais, fica esquecida a agenda de melhorar a qualidade da política pública: garantir que o gasto público tenha impacto sobre a vida das pessoas assemelhado ao que se verifica nas melhores práticas dos demais países.

O momento é de cuidar das muitas vítimas no Rio Grande do Sul. Garantir água, comida, cuidados médicos, abrigos e cobertores. E informar aos moradores onde eles podem obter o auxílio de que precisam.

Mas, passada a grave crise, devemos, com serenidade, avaliar as falhas da política pública em cuidar da manutenção da infraestrutura e fazer uma gestão mais eficaz de crises.

Na comparação com outros países, nosso problema não é a falta de recursos, mas, sim, o seu uso ineficaz em conjunto com a captura da política pública por grupos de interesse.

O resultado é um Estado que gasta muito, mas gasta mal, e uma dívida pública alta, que ameaça crescer mais do que a renda do país por muitos anos, igualmente prejudicando a vida das pessoas, ainda que por mecanismos mais sutis.

A gestão desajustada na política e na economia acaba por cair no colo do país, resultando em muitas vítimas.

Folha de S.Paulo 12 Maio de 2024
Marcos Lisboa: Ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005) e doutor em economia.

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